quinta-feira, 16 de maio de 2013

Um dia para não acordar, uma vida para não dormir

Ontem eu deitei pra dormir e imaginei como seria não acordar hoje.
Não para o resto da vida, mas só por hoje, um dia longe de tudo. E de todos. E de mim.

Passei por entre pensamentos, desde as coisas mais simples até as mais elaboradas. Poderia descansar minha cabeça, minhas pernas, meus olhos e meu coração. Deixar que o sono revigorasse tudo que em mim está estafado, renovasse meu equilíbrio – que anda muito desequilibrado – e me abraçasse em incontáveis minutos de sonhos. Sonhos... Quantos sonhos...

Poderia imaginar que estava em Berlim, que saudade de Berlim! Em cima de uma bicicleta, em um dia de primavera, dentro de um vestidinho esvoaçante e com um chapeuzinho delicado. E magra, por que não? Já que é pra sonhar...

Poderia brincar de ser mãe por um dia. Ter meu filho loiro de olhos azuis, branco como uma folha de papel e gorducho como um algodão doce. Eu o seguraria em meus braços e entenderia toda a razão de ter nascido, crescido e existido até ali. Sentiria meu coração inundar de um amor jamais sentido antes, e que nunca se esvairia.

Com certeza eu sonharia com um mundo melhor. Um mundo mais lúdico, se posso dizer assim. A gente riria mais e sofreria menos, trabalharíamos na medida certa em empregos perfeitos, teríamos muito mais tempo na rua debaixo do céu azul do que refém de computadores e lâmpadas frias – frias mesmo, não há muito sentimento bom quando se está por baixo delas. Pobreza seria palavra excluída do dicionário, mas riqueza teria o significado de “alma plena, coração purificado, cabeça tranquila e amigos”. Claro, poderíamos ser o Roberto Carlos e ter um milhão de amigos, todos com quem pudéssemos contar a qualquer momento.

Ta bom, ta bom, eu também sonharia com um closet enorme cheio das melhores roupas, uma sapateira imensa e recheada e um marido nem tão forte, nem tão franzino – normalzinho, com uma barba por fazer e um aroma de masculinidade. Por que não? Sonho é sonho, e não há de se julgar!

Só por hoje, eu sumiria sem avisar. Não mandaria um email para o meu chefe, não responderia as mensagens dos meus amigos, não ligaria para dar oi para mamãe e papai. Vestiria o manto da invisibilidade e adormeceria tranquila. Eu, minha cama e meu edredon.

Será que minha falta seria sentida?
Quem mais iria se preocupar?
Iriam me procurar?
E se eu pudesse não voltar mais, será que voltaria?

Só por hoje, o despertador tocou e eu quis sucumbir.
Levantei, respirei fundo. Segui em frente.

De todos os sonhos que sonhei, lembrei que nenhum deles poderia virar realidade enquanto eu dormisse.
Então, só por hoje, acordei com vontade de nunca mais dormir.

Imagem: reprodução


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